domingo, 24 de fevereiro de 2008

Metal - A Headbanger's Journey

Depois da Dri recomendar muito, eu vi Metal - A Headbanger's Journey

Metal - A headgangers journey

Heavy Metal pra mim é sempre uma coisa intrigante. Assim, só olhando, eu não consigo entender como alguém consegue levar isso a sério. Pior, não consigo entender como tem tantos adeptos que foi possível criar um modelo economicamente viável.

O filme meio que tenta explicar isso, pela visão de um antropólogo que é metaleiro desde criancinha.

O filme tem vários pontos muito interessantes...

Acho que o que me chamou mais atenção é o lance 'brotherhood' do metal. Um dos entrevistados comenta que quando você é um adolescente solitário e ouve Smiths, você fica lá sozinho, sendo esquisito e ouvindo Morrissey cantando sobre ser sozinho e estranho. Quando você é um adolescente solitário e ouve metal, você é aceito na galera do metal e passa a fazer parte de uma irmandade metaleira, não importa quão estranho você seja.

Isso me leva a questão dos indies blasés, cambada de chatos e socialmente incapazes que tem o maior prazer em esnobar uns aos outros. Os metaleiros são amicos e isso os une. Enquanto nego fica ralando com uma bandinha pra lá e pra cá, anos e anos, tocando em vários buracos só pra suas catinhas da internenezz!!11 e seus (poucos) amigos músicos de orkut, metaleiro tá tocando em festivais parrudos na periferia, cheio de outros metaleiros indo a forra e se divertindo horrores.

Eles mostram uma garota do Quebec, fã de Slipknot, cheia de 'se você não gosta, fuck you' e 'eu vou me vestir como eu quiser'. Hilário. Depois de um tempo eles mostram um tal de Mayhem (ou algo que o valha - desconheço totalmente). Os caras se auto-proclamam a banda mais importante do festival alemão que parece ser o Glastonbury do metal, 40 mil pessoas, palhaçada toda. Também são cheio de 'fuck you all'. Hilário novamente. Dá pra ver que nem eles mesmos acreditam no que estão dizendo.

O mais bacana é que depois destes caras, eles vão entrevistas o Dio. Poxa, o Dio. Pai do metal, vai? E ele tá lá, todo minúsculo (porque ele deve ter 1,50m quando muito), sendo fofo, educadinho e cool. Faz piada sobre o Gene Simmons (várias ao longo do filme) e faz cara de 'Ahhhh, essas crianças' quando se refere a galera do metal.

O mesmo acontece com a entrevista do Slayer. No começo do filme mostram alguém cortando 'Slayer' no ante-braço, sangue, tudo. Mais pro meio, aparece a banda e o entrevistador pergunta o que significa 'God hates us all' e eles dizem: Nada, mas o nome é forte vai?. Perfeito :) Os fãs se comovem por um negócio que até eles acham palhaçada.

O que me leva a outro ponto sensacional. Imagine a cena que eu vou descrever:

Banda de roque fazendo show nos EUA.

Todos os noticiários comentam quão perigoso é esse cara.

Ele é mal. Ele é satânico.

Ele corrompe nossas crianças americanas.

Ele é o anti-cristo.


Hoje, quem seria esse cara?


Seria ele?

Manson


Provavelmente seria.


Mas há 25 anos era outra pessoa.


Era esse aqui ó:

Dee Snider


Malzão ele né? Vestido assim com essa roupinha e esse cabelo. E o make-up? Twisted Sister minha gente. Eles foram um dos responsáveis pela criação do Parental Advisory. Jamais sonhei.

Pois é gente... Não vou nem falar mais nada. Só resumindo o que acho: daqui 20 anos, todos nós vamos rir e pergunta 'Como é que alguém achou que Marilyn Mason era perigoso? Piadinha boa essa, né?'

Enfim.. De volta ao filme.

Falando em moços vestido de moças, o filme tem uma parte dedicada somente a questão da sexualidade no metal. Essa era o meu assunto mais esperado e achei que foi a mais fraca também. Ao invés de efetivamente falar sobre como o metal pode ser considerado uma coisa de macho quando todos os símbolos são visivelmente muito gays, eles ficaram falando das bandas de metal farofa, Motley Crue, Poison etc. Eu queria ver é esse povo explicando o Manowar?

Manowar
O metaleiro do meu trabalho diz que é porque eles são guerreiros vikings. Oi?

Eles ensaiaram entrar no assunto falando sobre o lance dos homens e seus músculos, calças de couro, perus protuberantes em calças de couro apertadas, mas o máximo que chegaram foi dizer que quando Rob Halford (Judas Priest) apareceu com seus acessórios de couro e suas tachinhas, os gays já sabiam exatamente de onde vinha aquilo tudo, mas os héteros ainda não, portanto, acharam tudo muito macho. Tá boa pra você essa explicação?

Halford
Rob Halford. Saído diretamente do Blue Oyster Bar.



Um ponto delicado que foi abordado até bem foi o negócio do satanismo. Eles foram até a noruega, conhecida por seu metal perigosão, e contam a história das igrejas incendiadas pelos metaleiros malucos.

Eu não conhecia a história, mas teoricamente é meio assim: o pessoal de umas bandas lá resolveram lutar contra o cristianismo e botar fogo em igrejas centenárias. Um cara tá cumprindo perpétua (pelo incêndio e pelo assassinato de um companheiro - gente fina ele) e um outro foi condenado pelo incêndio mas saiu recentemente. Esse que saiu recentemente foi até entrevistado e ele deixa claro que não passa de um nazista incapaz de ter o mínimo de discernimento ou respeito pelas diferenças. Ou seja, velha história: Eu não sou aceito por ninguém, então também vou zoar o barraco e arrumar algum motivo bem bobo pra fazer isso. Quem sabe alguém nota a minha existência.

É muito bom que, logo depois de mostrar isso, aparece o Alice Cooper dizendo que adora ir pra Noruega pra poder ver as revistas de metal e ver esses caras disputando quem é o mais perigoso e maligno e satânico. Impagável ele dizendo que fica mostrando pro pessoal da banda dele, apontando e dizendo 'AHAHAHHAHAHAHAHHAHAA Olha esses caras!!!!!'.

Ahh sim. A minha última consideração é que o Bruce Dickinson tá muito parecido com o Roger do Ultraje a Rigor.

Bom :) Eu passo a recomendação do filme a diante.

**Este post é dedicado ao Klein, ao Masili, ao Rômulo e a YaHell, meus queridos amicos metaleiros. Se você é meu amico, é metaleiro, e me esqueci de você, por favor, me perdoe e tome este post como seu também.

No mais...

Não me culpem por não levar a sério. Tudo nessa vida tem só um propósito: Diversão :)

5 comentários:

Marcelo disse...

E é bem por aí mesmo. Acho que nós, os velhos metaleiros de hoje em dia, sabemos que as bandas que fazem essa parada há 20, 30 anos, são como um bom clássico de futebol ou uma luta de Telecatch: são coisas que apaixonam em certo momento da vida, e que no fim das contas valem pela simples e pura diversão (não importando o quão dissimuladas, marketeiras e oportunistas sejam). E quem levar a sério tudo isso corre o risco de se tornar um chato sem amigos pro resto da vida.

Quem gosta sabe o quanto é divertido balançar a cabeça e cantar odes ao demo. E mais do que isso, socializar com bons cervejeiros e orcs. Porque, que eu me lembre, nunca vi um metaleiro vegetariano e asseadinho por aí...

Fred disse...

Mas olha, a verdade é que 90% dos fãs de metal não levam a sério essas coisas também. É um estilo de música que tem essa cultura de agregação mesmo. E no fim o lance da diversão necessariamente. O problema não é que existe 10% dos fãs de metal que são babacas, o problema mesmo é que 10% da POPULAÇÃO MUNDIAL é babaca. Nem todo neo-nazista é metaleiro. Nem todo mundo que tatua frase em élfico no braço ouve Blind Guardian. E assim por diante...

Fred disse...

Ah, e uma coisa que eu não sei se fala no filme. Mas esse metaleiro da noruega que foi morto era justamente do Mayhem... eu não gosto do Mayhem e nem do Burzum (a banda do cara que matou ele), mas as histórias a gente sempre conhece!

opiumseed disse...

O cara do Burzum é o Warg Wirkengs (ou sei lá como se escreve) que matou o Euronimus (idem de como se escreve) do Mayhem.

Ouvi muito Burzum quando mais novo. Inclusive Burzum era gíria para ônibus em Vicente de Carvalho.

Ônibus > Bus > Buzum > Burzum.

Metal é uma das culturas mais agregadoras que eu conheço. A aceitação depende de poucos símbolos que são fáceis de aprender e consumir.

Prova disso que eu não ouço mais tanto metal mas aceito perfeitamente ser um metaleiro.

Anônimo disse...

P: Sabe porque é que metaleiro balança a cabeça?

R: Pra ver se pega no tranco.

:)